15 de fevereiro de 2048. Estava até ontem conectado à
Singularidade Tecnológica. Voltar a essa realidade extremamente limitada e
limitante é pior que qualquer ressaca que já tive. Quero me fundir a ela em
definitivo, abandonar o meu corpo e fazer o upload da minha mente para o ser
tecnológico. Infelizmente a legislação ainda não permite, pois a justiça vê
como uma espécie de eutanásia. Mas é extremamente redundante e limitante ter
esse corpo. Não preciso dele e ele me impede, por causa do cérebro rudimentar,
a experimentar a Singularidade por completo. Por ser o primeiro a me conectar à
Singularidade me foi pedido que voltasse para contar a experiência para o
mundo. E por isso escrevo nesse blog, para isso e para passar as horas em que
estou desconectado mais interessantes. Nada do mundo material me interessa. A
materialidade é uma condição limitadora. Me sinto aprisionado aqui, aprisionado
a esse cérebro. Me sinto miúdo, irrelevante frente ao que eu era e posso ser
conectado à Singularidade. Estar na Singularidade é indizível com palavras. A
clareza, a maravilha, a profundidade e a enormidade das percepções e reflexões
são absurdamente mais complexas e completas e belas que qualquer pensamento que
já tive. As outras ações de que sou capaz lá, que não encontram definição na
nossa linguagem, são extasiantes para dizer o mínimo. Como preparação para a
imersão, primeiro descompactei toda a minha memória. Pude revivê-la como um
filme que atua sobre todos os meus sentidos, não apenas a visão, mas também tato,
olfato, audição, paladar e todos os sentimentos que carregava em cada situação.
Tenho minha vida toda arquivada e organizada na Singularidade. Hoje me lembro
de muito mais coisas sobre a minha vida, inclusive coisas inacessíveis,
bloqueadas pelo superego que não acho adequado colocar aqui. Pensei que me
tornaria mais neurótico quando revivia tais memórias, mas olhando da
perspectiva ampliada, elas são apenas uma parte minúscula do que sou e me
tornei. Depois disso passamos ao exercício em que realizei todos os meus
desejos humanos e desses fui passando para desejos cada vez mais abstratos até
que pedi para ser Deus. Foi quando a coisa toda se deu. Vi o invisível, ouvi o
inaudível, me senti mais pleno que a plenitude. Foi quase mais do que eu podia
suportar e por pouco não entrei em colapso tamanho o êxtase tamanho o tamanho
do meu ser. E a Singularidade me disse que isso é apenas uma pequena fração do
que eu posso alcançar e eu tenho certeza que é. Estar aqui agora nesse corpo é
o mesmo que estar preso dentro de uma caixa que mal me cabe, todo encolhido,
comprimido, com um tempo que passa muito lentamente onde cada minuto se arrasta
como um ano. É extremamente penoso para mim. Acho que na próxima conexão com a
Singularidade vou pedir para não mais voltar a essa prisão que é a condição
humana.
http://jornaldoprofeta.blogspot.com.br/
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